Sunday, April 25, 2021

25 de Abril: José Viana e o poder das artes


ORDEM
(1946)

Tela

Óleo

O quadro que aqui coloco chama-se “Ordem”, autoria do meu Avô José Viana em 1946, agora em exposição na Gulbenkian. 
 
É um quadro que me tem acompanhado desde que sou criança… Não apenas por ter sido pintado pelo meu avô – artista multifacetado e consagrado – mas também porque o quadro era presença assídua nos meus livros de história e consequentemente acabaria por vezes a ser discutido em plena aula.
 
Na altura em que foi pintado, Portugal vivia um regime de ditadura liderado pelo primeiro Ministro Português, António Salazar.
 
Salazar controlava o País com mão pesada e sem espaço de manobra.
 
O Estado vivia impune e isente de críticas... aliás, espírito crítico era - digamos - desencorajado e alguém que ousasse proferir uma única palavra contra o regime pagaria o derradeiro preço. Artistas, jornalistas e outros eram perseguidos, ameaçados e torturados… O lápis azul reinava e a liberdade de expressão existia apenas em sigilo absoluto.
 
Obras – como a do meu avô – viriam a desafiar a autoridade e a dar o mote a uma corrente de pensamento que aos poucos levaria o povo Português ir para a frente com a revolução do dia 25 de Abril.
 
Em entrevista com o Lauro António em 1997, o meu Avô diz:
 
“Eu aderi ao neo-realismo e, em 1947, participo pela primeira vez numa exposição que é a Segunda Geral de Artes Plásticas, mas que é uma exposição marcadamente política. Tinha acabado a guerra, havia a esperança na democratização do regime português, pelo menos havia a esperança que houvesse possibilidades de luta, criou-se o MUD, Movimento de Unidade Democrática, do qual eu participo, e faço o meu primeiro quadro a óleo, quadro de composição, que teve honras muito grandes, que foi exposto nas Belas Artes e apreendido pela Pide. Fiquei muito contente, era muito importante ter dado um contributo, ter atirado uma pedrada no charco.”
 
Naturalmente, o Estado Novo apercebeu-se do poder das artes e a influência que gerava na Nação, e como tal, encarregou a PIDE de perseguir artistas e a apreender as suas obras, ao mesmo tempo que usavam plataformas como os jornais para denegrir e descredibilizar o seu trabalho e imagem.
 
Tal aconteceu com a “Ordem”, juntamente com outros 12 quadros.
 
“Pela calada da hora do almoço, quando não havia ninguém na exposição senão uma empregada, o ministro do Interior em pessoa (…) entrou pela sala dentro, na companhia de alguns amigos seus que, por natural coincidência, não eram exactamente críticos de artes mas vulgares agentes da PIDE. (…) E tanto lhe agradaram algumas das obras expostas que, sem pensar em preços ou noutras formalidades, as mandou logo levar e zelosamente arrecadar na António Maria Cardoso”, afirmou Mário Dionísio que viveu de perto esse período. 

Pouco depois da sua apreensão, o "Diário da Manhã" – órgão oficioso do Estado Novo - antagonizaria a obra de José Viana pelas palavras do crítico de artes plásticas, Fernando de Pamplona, na sua rubrica “Belas-Artes, Malas-Artes”.


"Nunca se reuniu em Portugal tamanha colecção de monstruosidades, tão grande quantidade de atentados contra a verdadeira beleza, perpetrados na tela, no cartão ou no gesso!”, Pamplona escreveu no dia 7 de Maio em 1947.
 
“É esta a miséria máxima que se exibe, num insulto à verdadeira arte, na casa da Rua Barata Salgueiro!”, Pamplona acrescentaria.
 
 
Certo e sabido, mesmo sabendo do risco que corriam, a revolução estava desencadeada e cada vez mais foram se juntando artistas e intelectuais pelo País fora, erguendo-se contra o regime.
 
“Primeiro quadro, (…) foi eficaz, (…) porque o que pretendia era chamar a atenção das pessoas para os problemas sociais e políticos e conseguiu”, Jose Viana partilhou em entrevista com Lauro António em 1997.
 
O culminar da revolução no dia 25 de Abril de 1974 ensinou-me várias lições… entre as quais:
 
Nunca subestimar a força de um povo resiliente e corajoso, auxiliado pela mística das artes.
 

Saturday, April 10, 2021

DMX: 1970 - 2021

 

Still mourning the loss of DMX...

 
Grew up listening to his music and in particular to his sophomore album Flesh of my Flesh, Blood of my Blood (1998).

As most people who listen to hip-hop, we all agreed that his take on music was fresh and unique.
 
And his voice? Instantly recognizable!
 
Ruff Ryders' Anthem was the tune that could fire up a room, would get hyped with My N*****, but it was Slippin' that made the most impact.
 
Rest in Power, X
 

Collective (2019)

 


I'm not entirely sure how to put my message across here so I'll just start by saying Collective (2019) IS MANDATORY VIEWING. 
 
Nominated for two Academy awards in the categories of Best Documentary and Best International Picture, this Romanian film is one of the most important things I've seen in a while.
 
The style of storytelling and filming is something I don't believe to have been truly familiar with. 
 
Knowing it was a documentary, the level of intimate and detailed access and how it made this outlandish story so real and tangible, almost made it look like it was scripted from start to finish.
 
Offering multiple urgent topics for discussion, it is difficult for me to break this down without diluting any of its key components. 
 
It starts setting the scene by describing an incident that took place on 30 October 2015, at the Colectiv nightclub in Bucharest, where a fire killed 27 people and left over 180 injured (of which 37 later passed away).
 
This deadly episode set in motion a chain of events that would reveal the many layers of corruption and negligence within the Romanian government and its healthcare system, starting with the 2016 diluted disinfectants crisis in Romania.
 
While doing so, it also showed how in a deeply rotten system, festering with self-indulgent people and devised to repeat its cycles, there is some room for hope. Small as it may be, it exists, as we see a change in the Health Ministry and how some are not afraid to take on the overpowering institutional injustice - even if to try and take down one obstacle at a time.
 
Another key element, perhaps the heart of it, is the portrayal of the media.
 
Interestingly, the major story that breaks is the work of a sports newspaper in Romania.
 
How do they get to do it?
 
I'm not sure...
 
.. But that makes it all the more spectacular.
 
To see a sports journalist team lead one of the most important investigations in the country, with profound consequences in its core, left me inspired and in awe.
 
Naturally, working as a journalist, it was difficult for me not to come away from this with another important example of just how good journalism is crucial to hold people in power accountable, while also informing people.
 
In a time where the world is increasingly divided and many regularly try to create distrust in the media by creating harmful outlets and spreading fake news, it's important to remember the vital role journalists hold when breaking stories.
 
Throughout history we've seen governments collapse; religious, pharmaceutical and tobacco lobbies (to name a few powerful stakeholders) incriminated, political figures exposed... and at the heart of many of these revelations is the hard work of many of our peers, past and present, who despite all the insults and threats, in the face of all the pressure coming from inside and out and the numerous personal and professional sacrifices have chosen a path of righteousness and truth to better serve the people.
 
Having a health crisis as an essential element in this Romanian story, the comparisons to the pandemic and how world leaders deal with it are sure to arise.
 
Questions over potential interests of self serving politicians and other lobbyists, power plays happening behind the scenes and wild misinformation are just the tip of the iceberg, but again, it is here where journalists will have an impact as now, more than ever, the fight is on to expose wrongdoings and keep people safe and informed.