Wednesday, August 04, 2010

High Fidelity (2000)



Não há forma de eu conseguir fazer jus a este filme... 
Admito que em parte seja por falta de capacidade! Talvez por estar demasiado deslumbrado com ele, sinto-me incapaz de corresponder à grandeza evidenciada ao longo dos 113 minutos. Portanto, assumam desde já que há mais para esta longa-metragem do que aqui vou enunciar...

Comecemos...

High Fidelity é uma obra literária escrita em 1995 pelo novelista britânico Nick Hornby, autor de obras como Fever Pitch, About a Boy e An Education... todos estes adaptados para o cinema com sucesso!

Aquando da sua saída em 95, os direitos do livro foram adquiridos pela Touchstone Pictures, tendo esta desenvolvido o projecto durante os três anos que se seguiram. A companhia, através do seu pontífice máximo, encarregou o actor John Cusack e a sua equipa de adaptar o material escrito para a grande tela, tendo mais tarde adicionado o realizador inglês Stephen Frears ao projecto (para os que não estão familiarizados com as suas obras, Stephen Frears ganhou maior notoriedade com The Queen, filme parcialmente biográfico sobre a Rainha Elizabeth II). 

O lançamento de High Fidelity tomou lugar em Março de 2000, tendo desde aí cativado a audiência e critica como um dos melhores filmes do ano, ganhando um grande nível de exposição pelas muitas referencias feitas um pouco por todo mundo, assegurando-lhe um lugar entre os crowd favorites
Hoje ostenta estatuto de filme de culto! É referenciado não só entre os amantes de cinema, mas também os de música pelas suas abundantes marcas musicais, e pelos literários, pela forma como conseguiram transpor com extrema eficácia e qualidade o source material do livro.

A história anda em torno de Rob Gordon (John Cusack), um junkie musical e também conhecedor de outras áreas (nomeadamente o cinema) que procura obter as razões por detrás das suas "top 5" relações fracassadas. ("Top 5" é um sistema hierárquico que a personagem principal e os outros dois empregados recorrem sistematicamente - com maior ênfase para músicas - como forma não só de entretenimento mas também de demonstrar o seu conhecimento)

Rob passa maior parte do dia na loja Championship Vinyl, da qual é proprietário, com os seus dois empregados, Dick (Todd Louiso) e Barry (Jack Black). Discutem música assiduamente e assumem (de "nariz empinado") que são algo superiores aos clientes que por ali passeiam, sendo estes muitas vezes alvos de comentários depreciativos por parte dos três representantes da loja (onde a personagem de Jack Black é claramente aquela que mais abusa).

Num formato intimista, a acção do filme é relatada na primeira pessoa, com a personagem principal a falar para a câmara (como quem consegue ver para além desta, dirigindo-se assim à audiência) muito ao estilo de como um narrador o faz no estilo literário! Desta forma, Rob conta alguns episódios marcantes da sua vida e a forma como estes o afectaram o seu estado actual.
Pela demonstração do seu comportamento e reacções (tanto no passado, como no presente) podemos denotar que Rob é neurótico, que passa algumas crises de segurança, apenas exacerbadas pela sua condição emocional transtornada pelos dissabores da sua vida amorosa. 
Conflituoso, muito pelo seu sentido (apurado diga-se) critico, é visceralmente um romântico ingénuo com pouco controlo das suas emoções, que se apoderam dele (de forma agressiva), passível de o fazer passar por alguém desequilibrado, mas que no entanto não é! Apenas alguém que se deixa envolver em demasia nas suas relações, não tendo real consciência que de facto é muito self-envolved.

É evidente que o filme desenvolve... mas não querendo eu retirar mais surpresas/detalhes/factos, fico-me por aqui... (talvez nem devesse oferecer nenhuma premissa... a minha total ignorância neste caso teve resultados maravilhosos).

Portanto, ficam aqui os meus top 5 (muito ao jeito do filme/obra - mas desta sem ordem hierárquica) argumentos que validam este filme como um trabalho monumental:

- Adaptação de uma obra fantástica (de um autor consagrado) com grande influência da realização primorosa de Frears.

- Interpretações muito boas (destaque para John Cusack e um - energético e irreverente - Jack Black) com Cameos e participações fortíssimas!

- Banda-Sonora de LUXO!

- Referências culturais (musicais e cinematográficas são as mais enfatizadas)

- Demonstração de cenas/reacções com as quais nos podemos identificar, que conjugam um excelente sentido de humor com temáticas sérias e pessoais


Por fim, quero deixar o meu comentário mais pessoal...
(com alguns pontos já mencionados em cima)

Um dos motivos pelo qual o filme me agarrou com bastante força, foi o facto de me rever na personagem principal... tanto nas suas virtudes como defeitos! Esta análise está inserida num âmbito pessoal, visto que foram vários os momentos em que me senti um pouco como se estivesse a olhar ao espelho!

O facto de ser um acérrimo apreciador de música e cinema, de se assumir como um critico e também um analista da sua própria vida (e em algumas ocasiões, dos outros) de forma minuciosa...
(Ahhh... e também ele foi/é DJ, algo que eu próprio experienciei recentemente e que gostaria de voltar a fazer sendo necessário aprofundar "a arte" por detrás de passar música...- mas este argumento acaba por ser o menos relevante)

Estes são alguns dos pontos (mais ou menos) positivos que encontrei... contudo, foi também nos defeitos que me senti ligado a Rob Gordon. Este apresenta from time to time comportamentos neuróticos, por vezes inseguro, com facilidade em "explodir" dado o seu mau feitio... proveniente do facto de ser um tanto pouco snob, por dominar certos campos de conversa. A verdade é que ele próprio conhece as suas limitações e assume-as... mas acredito que isso acaba apenas por lhe conferir maior estatuto na "doutrina" que defende. Isto porque tendo ele essa capacidade de análise e introspecção... acaba por estar um passo à frente dos outros, que levam uma vida inteira à procura das suas próprias virtudes e defeitos.

Acredito que aqui existe um paradoxo, porque no que toca as relações amorosas, Rob evidencia bastantes dificuldades em apontar as razões pelo qual elas não funcionaram (lá está! por ser neurótico e inseguro...). Seja como for, nos "filmes" que decorrem na sua cabeça... acredito que muitos de nós homens (e também mulheres) já desencadeamos uma onda de raciocínio semelhante, aquando da altura em que separam da(o) namorada(o).

Eu que estive muito observador o filme todo, fui de certa forma "obrigado" a fazer uma reflexão pessoal sobre os meus comportamentos (tanto no passado como presente) chegando à conclusão que, embora ainda tenha muito que crescer, já percorri um longo caminho com episódios mesclados de situações decorridas no filme, que contribuíram para o homem que sou hoje e que procuro ser.

Acreditem que por vezes foi penoso observar a personagem de John Cusack em ecrã, pelo simples facto que fui confrontado com muitas das minhas atitudes e maneirismos. Confesso que até senti alguma vergonha, não obstante do facto que tenho em conta que sou um "produto inacabado" numa fase de "retoques e afinação". Convenhamos... o problema de muita gente é não ter acesso a um olhar despido e imparcial sobre a sua própria pessoa... caso tivessem seriam confrontados com vários contra-sensos por se aperceberem que nem tudo era como pensavam, e que afinal a sua actual postura na vida difere em grande nível da postura que assumiam ter.

Independentemente disso, houve alturas (onde saliento a recta final desta longa-metragem) em que senti algum alivio pela esperança que me foi incutida... mas isso já é algo que prefiro não comentar, deixando assim nas vossas mãos perceberem do que falo.

Sei que teria feito melhor figura caso tivesse um bloco de notas comigo durante a visualização de High Fidelity, ou se o visse uma segunda vez... é algo que tenciono fazer num futuro breve... preferencialmente acompanhado! Assim certamente conseguiria  fazer-me entender mais facilmente...


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