Ontem tive a enorme felicidade de poder marcar presença no Campo Pequeno para assistir a um concerto de
Herbie Hancock! Embora não seja propriamente o seu fã
nº 1, reconheço-lhe o devido talento e influência no cenário musical, nomeadamente na conversão do Jazz para um misto que funde
Soul,
Funk,
Hip-Hop e música electrónica. Podemos dizer que é um todo-o-terreno, que sempre se procurou destacar pelas experiências... e parece que aos 70 anos, embora tendo abrandado um pouco o seu ritmo, não abdica da procura de inovação.
Começou a sobressair-se junto de Miles Davis, uma das figuras incontornáveis do jazz, que também ele à semelhança de Hancock, era dado às experiências... sendo responsável por um movimento de fusão do hip-hop com o jazz... Hancock porém, trouxe outras coisas para cima da mesa... nomeadamente os sintetizadores, o seu "instrumento imagem de marca" (se é que podemos recorrer de tal definição). Com este acréscimo (entre outros) conseguiu converter o jazz para um estilo mais próximo do "comercial", tendo com isto atingido sucesso imediato, que estendendo-se aos dias de hoje, o tornaram um dos músicos mais reconhecidos mundialmente.
Ontem esteve em Lisboa para promover o seu mais recente álbum intitulado
The Imagine Project, uma clara homenagem a um dos maiores compositores que passeou o mundo, o lendário John Lennon.
Lennon como se sabe, era um activista! Um defensor do equilíbrio, da justiça e paz. Usando o antigo Beatle como principal referência, os músicos em palco procuraram através da música propagar esses princípios, salientando que é fundamental a união do mundo, algo que depois da abertura do concerto, o próprio Hancock destacou no momento em que se dirigiu ao público, tendo este feito questão em demonstrar apreciação pelo seu esforço tão bem intencionado.
Continuou então o resto do concerto, que até metade não me estava a cair muito bem. Não digo que não fosse bom, apenas não fazia muito o meu género, tal forma era mesclada a música...
Perdi-me inúmeras vezes, tendo decidido a certa altura focar-me singularmente em alguns membros da banda de forma a conseguir fazer uma avaliação mais precisa do que estava em palco.
A banda é boa (e nisto incluo Kristina Train, cantora convidada a acompanhar a digressão)... não há dúvidas disso, mas há um membro que se destaca claramente, a quem responsabilizo a subida de produtividade na segunda metade do concerto. Falo do teclista Greg Phillinganes que além de bom músico, demonstrou ser um "braço direito" de Hancock pela forma como assumiu liderança em palco e como criou desde cedo empatia com a audiência. Ah! e o melhor estava para vir! Philinganes reservava um talento que muitos pareciam desconhecer, mas Hancock bem nos avisou... o homem canta!
Seguiram-se outras músicas, na maioria reinventações de temas como Don't Give Up (popularizado num dueto por Kate Bush e Peter Gabriel), So What (um clássico do Jazz, interpretado por vários mas imortalizado por Miles Davis) ou Imagine de Lennon. Esta última, achei talvez um tanto pouco insípida apesar do esforço em quererem centrar uma homenagem (muito apropriada convenhamos) ao seu autor. Imagine é uma das minhas composições favoritas, e não querendo dizer que deveria ser um tema intocável, sou da opinião que os arranjos proporcionados por "Hancock e companhia" dão-lhe uma condição débil (atenção: a minha opinião é suspeita).
Houve ainda tempo para uma medley composta pela junção de dois temas... The Times They Are a-Changin' (Bob Dylan) e A Change is Gonna Come (Sam Cooke). Ambas as músicas escritas sob o signo da revolução e defesa dos direitos humanos, marcam um dos momentos altos da noite com Greg Philinganes a brilhar com o seu imenso (e portentoso) vozeirão, que além de criar um ambiente electrizante (as pessoas estavam completamente rendidas ao seu talento), até pareceu intimidar a jovem Kristina Train, também ela detentora de uma belíssima voz.
Ao fim de quê? 2 horas de concerto? (perdi noção do tempo) deu-se a "despedida" que minutos depois deu espaço ao habitual
encore. Com o fim deste, Herbie Hancock e os restantes elementos saúdam o público ao som de
Rockit, um dos seus grandes clássicos mais ligados ao hip-hop e electrónica (melhor som para
breakdance, não há!). As pessoas ali presentes estão completamente em êxtase, principalmente devido ao último reduto do espectáculo que foi de facto mais intenso e colorido.
Não havendo ainda muito na net disponivel, deixo-vos
Rockit e
A Change is Gonna Come (muito semelhante ao que tivemos oportunidade de ver no Campo Pequeno).