Antes de incidir sobre aquele que é claramente o assunto na ordem do dia, quero começar por esclarecer que eu, Duarte Mendonça, no "calor do momento" proporcionado pelo "desfecho" do caso "Casa Pia", transmiti via
facebook um juízo de valor, que embora pouco longe da verdade, não deixa de ser pouco premeditado. Talvez por isso sinta alguma necessidade de opinar sobre o assunto, de uma forma mais concreta/sustentada...
... Minto! Quero opinar porque tendo eu perdido interesse no assunto ("Casa Pia") por desgaste (excessivo) deste mesmo (proporcionado pela Comunicação Social), senti necessidade de me actualizar sobre o caso, nem que para recuperar um pouco do humano que há em mim, que também sofre com todas as injustiças espalhadas no mundo, com principal destaque para aquelas que acontecem no meu território... na minha "casa"!
Lógico que eu, como provavelmente muitos outros portugueses, apenas retomo este escândalo mediático por força de recentes eventos, que em parte me fizeram sentir indignado pela forma como todo este processo têm sido conduzido, levando a que eu enquanto cidadão português, tenha vergonha de me assumir como parte integrante de uma comunidade que não zela primariamente pelos interesses do povo que compõem, o que foi em tempos, uma grande nação!
Ora, reconheço que esta abordagem seja um pouco inapropriada pelo exercebamento das palavras a que recorro, como quem quer dar uma ênfase dramática a algo que não merece tal tratamento. Infelizmente não se trata do caso, pois estamos a falar de matéria extremamente delicada, que além de manchar (mais uma vez) o nosso sistema judicial e as pessoas que nele operam, tem apenas promovido a infelicidade e desgraça de vitimas alheias que sofrem consequências gravíssimas desde o principio da sua infância!
Com a sentença lida, é natural que se tenha gerado uma onda avassaladora de informação que ocupa o tempo de antena de praticamente todas as estações televisivas portuguesas. É natural que litros de tinta corram pelo país fora. É natural que sejam muitas as vozes que não se calam, com formas de justificar o que correu mal, mas também salientar o que correu bem!
"Foi feita justiça?" Penso que terá sido a pergunta mais colocada no dia de hoje...
Pouco ou nada li hoje sobre a decisão do tribunal. Foi apenas em casa através do telejornal e principalmente através do programa "Especial Informação", com o José Rodrigues dos Santos a orquestrar uma sessão que contava com Carlos Cruz, um dos arguidos do processo, juntamente com Dr. Edgar Lopes, juiz e ex-vogal do Conselho Superior de Magistratura, e Dr. Miguel Matias, advogado representante da Casa Pia.
Nesta sessão constatei a entrega de Carlos Cruz à defesa da sua inocência, algo que confesso ter mexido comigo de tão convincente que foi, levando-me a crer que das duas, uma: ou de facto está inocente, ou está muito bem preparado! Acredito mais nesta segunda...
Sabendo um pouco do historial de C.C na televisão, sabemos todos que ele é um excelente comunicador, com uma elevada capacidade de argumentação, improvisação e "representação". Mas outra coisa que também me levantou questões relativamente à sua inocência, foi o comportamento do seu advogado, o Dr. Ricardo Sá Fernandes. Este defende-o até à exaustão (como ficou comprovado pelas imagens no tribunal), como quem acredita convictamente que o seu cliente está a ser injustiçado! Talvez eu, por falte de experiência e conhecimento próprio desta área, pense que se fosse advogado com consciência da "verdade", talvez não fosse tão dedicado (porque na minha óptica, saber que estamos a defender alguém culpado, deve de alguma maneira limitar as nossas acções de defesa).
Reflectindo sobre tudo isto, arrumo da forma que posso, estas ideias todas e formo a minha opinião! Dou por mim quase no mesmo lugar onde comecei, ou seja, acho que é culpado!
Entretanto, o programa não se resume apenas à intervenção do sr. Cruz e José Rodrigues dos Santos certifica-se disso. Não está ali para fazer favores a ninguém nem ajudar à limpeza de imagem do arguido mais conhecido da actualidade. Faz questões, parte para o ataque, tem o trabalho de casa bem feito.
Um dos pontos que considerei mais pertinentes de toda a sessão foi a evocação de outros casos semelhantes, espalhados um pouco por toda a Europa. Na França por exemplo, o maior caso de pedofilia, com mais de 60 arguidos (60 ARGUIDOS!!!!!) foi concluído após 5 meses (!!!). Nós, num caso com 6 arguidos, levámos anos (ANOS!!). Isto é um atestado de incompetência ao nosso sistema, a começar pela
merda de legislação que temos, que de tão flexível, permite a extensão desnecessária de uma tortura desgastante.
De forma alguma podemos encarar isto de forma pacata sem revolta e nojo! Vivemos numa sociedade que se rege por normas de conduta perversas!
Quase que já podemos ver o desfecho deste caso! Tal forma são proporcionadas facilidades aos criminosos de sair impunes, que de recurso em recurso... com tribunais de 2º instância e por ai adiante, na prática não vão haver condenações. Por outras palavras, os arguidos apesar de julgados e condenados, vão acabar por não cumprir pena. Aliás, ninguém me diz que agora nos primeiros recursos não hajam pessoas absolvidas ou penas reduzidas. Em suma, UM ESCÂNDALO!
Entretanto, passo do programa "Especial Informação" para um debate na SIC conduzido por Mário Crespo. Aqui, já me encontro a meio, mas a conversa em parte, "é mais do mesmo" (não deixando de ser interessante e importante ouvir o que mais pessoas têm para dizer), contudo, pelo que me foi explicado, os intervenientes deste debate são de importância vital para que este caso seja compreendido em toda a sua plenitude, principalmente através dos testemunhos de Felicia Cabrita, uma das principais jornalistas investigadoras que remonta este processo já para a década de 60 (onde muitos dos crimes aqui indiciados já decorriam).
Falou-se dos nomes ocultados, dos arguidos absolvidos, das consequências que os actos tiveram a longo prazo, não só no nosso quotidiano mas principalmente nas vitimas... enfim... um debate fortíssimo que apontou o dedo sem pudor nem preconceito a instituições de poder (partidos políticos, o próprio Governo) e a figuras de elevado estatuto social, que claramente exerceram do seus contactos e influência para "abafar" inúmeros acontecimentos deploráveis durante "anos a fio". Seja como for, o facto de terem sido denunciados alguns nomes é parcialmente gratificante... mesmo os que não foram constituídos arguidos, terão de viver com o seu nome associado aos mais ínfimos casos de pedofilia, um crime que provoca uma enorme repulsa. Mas claramente, é notória a falta de eficácia (e não me canso de reforçar esta ideia) do nosso sistema que falha sistematicamente nos mais diversos campos. Por exemplo, a indemnização dada às vitimas ilustra bem isso. É inacreditavelmente disforme relativamente ao que seria considerado "justo"... aliás um dos convidados no debate aponta isso mesmo com a utilização de um caso pessoal que aconteceu consigo em tempos, onde foi indemnizado por difamação com um valor semelhante aos que os antigos "casa pianos" receberam. Não tem qualquer tipo de nexo como todos vocês podem constatar, mas "é o País onde vivemos".
Será que foi feita justiça?
Sim...
... e não...
Obviamente o facto de terem sido atribuídas condenações aos arguidos é reconhecido como um triunfo, no entanto, com base no que temos visto, certo e sabido, muitos poderão ser absolvidos, outros ver penas reduzidas... e quem sabe até não cumprir pena nenhuma! Portanto... justiça? Parece não existir...
Não penso em utopias...nem as exijo! Exijo sim coerência, discernimento sério, capaz... com olhos nos valores basilares que nos validam enquanto seres humanos... não monstros! Porque é isso que tem sido revelado.. tal a monstruosidade presente que "contemplamos", em particular neste assunto horrível que assombra muita gente, bem antes da época em que a Casa Pia "explodiu" numa catarse, que não levanta margem para dúvida que é um dos cenários mais tenebrosos ocorridos em Portugal!
Os olhos de Mário Crespo no desfecho do programa, atestam de forma genuína o grau de sensibilidade que peremptoriamente todos nós atribuímos validade, até porque, o facto de o VERDADEIRO DESFECHO deste caso ser totalmente precário... assusta! E de que maneira meus amigos...
Cansado como estou de escrever (e de "carregar" sobre um assunto que certamente figurará nas nossas televisões durante os próximos tempos), deixo-vos o debate na SIC com informação em abundância (contrariando a ideia que tive inicialmente onde afirmei se tratar "mais do mesmo") para que percebam a gravidade que isto é...
Acabo este "desabafo" (se é que lhe podemos chamar assim) da mesma forma que o ilustre Mário Crespo, que cita a Juíza Ana Peres:
Como é que isto foi possível? Como é que isto... era possível... na Casa Pia?