18.00 Horas. Centro Congressos do Estoril. Festival Cascais Jazz 09 (once again). A sala prepara-se para receber o seu concerto de Domingo, o concerto que porventura era o mais aguardado de todo o festival. Porquê? Porque o seu elenco musical era composto por um All Star Cast escolhido a dedo pelo meu Pai para ser o main event do fim-de-semana. Aquele que serviria como forma de homenagear toda aquela época incrível vivida em Portugal na década de 70 com o aparecimento do primeiro Cascais Jazz. Um verdadeiro hino à música, nomeadamente ao Jazz e à grande qualidade demonstrada antigamente longe de tempos feitos de vendas, moda e exagero de merda… quero eu dizer, oferta. Todos os músicos que compõem o grupo Cascais Jazz Legends (nome atribuído para a sua apresentação ao público português) participaram no festival entre a década de 70 e princípio de 80 tocando com grandes ícones como Dexter Gordon, Gil Evans, Sarah Vaughan, Dizzy Gillispie, Thelonious Monk, entre outros. Eis a entrada em palco…
Phil Woods - Saxofone,
Lew Soloff - Trompete
Rufus Reid – Contrabaixo
Jimmy Cobb – Bateria
Cedar Walton - Piano
Surge uma recepção muito acolhedora a estes senhores, que se apresentam à audiência bastante diferentes da última vez que cá marcaram presença, afinal de contas, passaram mais de vinte anos.
Para vos situar melhor em relação a ideia que tive aquando da sua entrada em palco, farei uma comparação a uma situação cliché de um filme. Estão a ver quando temos uma equipa de senhores idosos com um ar fragilizado que enfrentam um grupo de jovens pomposos e arrogantes que assumem á priori que os senhores não apresentam qualquer tipo de ameaça? Pois bem… no festival não havia competição, nenhum clima de tensão whatsoever mas pintei este quadro porque deu-me uma certa pica imaginar o conflito de gerações, por termos de um lado artistas a atingir o pico na sua carreira e do outro lado os old timers que apesar de carregarem um nome cheio de história, parece que as pessoas têm medo em lhes depositar alguma responsabilidade de viver à altura das suas melhores épocas visto que a idade pode se apresentar como uma limitação (it usually does).
Aqui não foi o caso! Desde que entraram em palco até ao final do espectáculo, posso dizer que foi um show memorável e uma grande lição para toda a audiência. Um concerto que além de encantar todos os presentes, também nos lembrou que a idade é no estado de espírito. Ao contrário do que vimos sexta-feira com Lee Konitz, em que este se resguardou por completo (por estar ciente das suas limitações ou por não querer arriscar… não sei), vimos os Cascais Jazz Legends entrar para exclusivamente fazer uma coisa: PARTIR A LOIÇA TODA!
Foi simplesmente FANTÁSTICO! Impressionante como tocam de olhos vendados como se estivessem juntos à anos. Phil Woods, apesar da sua condição física e estado de saúde, nunca fez para abrandar o ritmo. Tocou como se fosse a sua última vez em palco e no fim de cada tema notava-se o esforço que exercia quando falava para a plateia quase sem ar. Mas isso não o impediu de contar pequenas histórias, puxar pelo público e depois voltar ao seu saxofone em grande estilo. Lew Soloff, super activo, super carismático, super brincalhão, super humilde, super músico! Jimmy Cobb está ali para as curvas (e de que maneira!). Parece que foi “ontem“ que gravou Kind of Blue com o Miles Davis. Por fim, os dois que achei serem mais discretos quando comparados com os restantes membros, no entanto, não quero dizer com isto que tenham ficado aquém do que podiam providenciar. Cedar Walton e Rufus Reid, com toda a sua arte e técnica, demonstraram também ser a elegância em pessoa.
Enfim… será fácil deduzir que a noite foi um sucesso. As pessoas que assistiram ao concerto ficaram em completo êxtase pela demonstração que ali feita por alguns dos grandes do Jazz de sempre. Após o último tema, veio a despedida em palco com os agradecimentos da banda e o reconhecimento do público que ali ficou de pé a aplaudir e a gritar. Enquanto saiam de palco, houve o momento da praxe onde lhes foi pedido o encore. Tal pedido fez muito sentido! Muitas vezes o concerto pode não ser formidável, até mesmo nada de especial, mas como sinal de respeito é feita uma ovação para que voltem em palco. Enfim… um acto já tradicional no fim de cada concerto. Mas neste dia era mais que merecido (e mais que desejado também!). Ficamos ali “séculos” a bater palmas efusivamente, cada um para seu lado, até que sincronizamos todos os nossos esforços para um pedido conjunto. Demorou um bocado mas ainda bem! Foi bonito ver uma sala inteira não arredar o pé e permanecer naquele espaço à espera de um último momento de magia. Assim aconteceu. Voltaram todos excepto Phil Woods que provavelmente já não podia mais, depois de uma noite onde se entregou por completo à música, arte e público. Depois do encore, mais uma homenagem de pé. Os aplausos faziam eco na sala! Foi memorável. Sai da sala num misto de emoções. Feliz e arrepiado pela oportunidade única que tive. Triste e desolado pelo seu fim. Nunca me hei-de esquecer deste Domingo, dia 6 de Dezembro.
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