Ontem tive um episódio, que para aqueles que me conhecem bem, sabem que não é de todo estranho, por me considerar uma pessoa relativamente sensível, mas que em todo o caso, não deixa de levantar algumas questões.
A caminho do paredão onde faço a minha corrida habitual, estava parado no semáforo encarnado da Avenida 25 de Abril (a curtir grandes malhas da banda sonora do filme Away We Go) e quando estava prestes a ficar verde, vejo um senhor de uma certa idade a tentar apressar o passo para conseguir atravessar a estrada a tempo. Eu que já o tinha visto, tinha decidido deixa-lo passar independentemente da cor daquele semáforo. "Rapidamente" se lançou para a passadeira enquanto a cor mudava, mas parecia não haver pressa para andar pois teríamos todos dado prioridade ao senhor. Enquanto este se deslocava devagarinho, olhou directamente para o interior dos carros com um sorriso discreto e um gesto universalmente simpático, de punho cerrado com o polegar levantado, um "fixe" digamos... Fez questão de fazer um esforço e acenar para todos de uma maneira genuinamente simpática. Parecia lhe custar um pouco o ritmo do andamento (de forma a sair da passadeira) e o próprio gesto em si, mas fê-lo de qualquer maneira. Sei que contado não parece ser grande coisa, ou melhor, é normalíssimo as vezes vermos retribuídos estas acções com pequenas coisas... mas no momento mexeu imenso comigo. Quase com lágrima no olho, fiquei imediatamente com imensa vontade de sair do carro para dar um abraço ao homem! Era um daqueles momentos que se alguém me visse se calhar eu passaria um bocado vergonha, dado que estava fragilizado com pouco. Enquanto o senhor punha o pé no passeio do outro lado e os carros arrancavam devagarinho, tive um momento de reflexão que se estendeu até à chegada do centro de Cascais. Por instantes pensei apenas naquele pequeno episódio e no que me tinha oferecido. Uma imagem tão bonita e única aos meus olhos que dificilmente a tiro da minha cabeça. De seguida, incidi sobre o meu equilíbrio emocional que parecia um pouco desfasado. Porquê uma reacção daquelas? Dos "meus problemas", que parecem insistir em aparecer e carregar o meu dia-a-dia, já eu aprendi a lidar com eles (se bem que nem sempre é fácil... vai até um certo ponto os dias que consigo aguentar/ignorar). Resposta mais fácil para isto surgiu de imediato. Época natalícia. Com tudo o que se passa, numa época que para mim é tão especial e cheia de boas memórias, ficou ali claro como a água que devia ser do Natal e os momentos que se seguem depois dele. Época de gozar as pequenas coisas, de valorizar tudo e todos... desde a pessoa anónima até a aqueles que mais amamos. Época de respeito, partilha... de perdão e de paz. Segue-se depois a passagem de ano... época de mudança, de transformação. De reconhecimento das nossas falhas e estabelecimento de objectivos. Altura para valorizar o que de bom fomos durante o ano, mas querer ser melhor no seguinte! Querer tornar o meu ambiente e aqueles que me rodeiam, melhores! Ultrapassar as nossas crises, os nossos fantasmas, os nossos problemas. Ser nada menos que fantástico! Todas aquelas frases e clichés bonitinhos e politicamente correctos que apelam ao greater good. Que bom haver estas épocas que nos obrigam pelo menos uma vez por ano, a tomar determinadas coisas em consideração...
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